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terça-feira, 9 de março de 2010

Ouvido biônico traz boa qualidade de vida...


Crianças e adolescentes surdos com implante coclear -um estimulador elétrico que faz o papel do ouvido, ou seja, capta o som e o transforma em pulsos elétricos- têm qualidade de vida similar à de crianças e jovens ouvintes sem o implante.
É o que aponta um estudo americano publicado no periódico "Otolaryngology -Head and Neck Surgery".
Ainda segundo a pesquisa, quanto mais cedo a criança fizer o implante, conhecido como ouvido biônico, melhor será sua adaptação social e seu desempenho na escola. No Brasil, a cirurgia é feita pelo SUS em centros especializados.

O implante é indicado para crianças surdas com ao menos um ano de idade e adultos com surdez bilateral severa que não tiveram benefícios com o uso de aparelhos auditivos. É necessária uma complexa adaptação para que a pessoa consiga interpretar os sons recebidos.

No estudo, foram avaliadas crianças de 88 famílias, com idades de oito a 16 anos. Elas e seus pais tinham que responder a um questionário sobre a saúde física, mental e emocional, relacionamento social e desempenho escolar. As respostas foram similares às de crianças e adolescentes ouvintes, sem implante.

Para Domingos Lamônica Neto, otorrinolaringologista da equipe de implante coclear da USP de Bauru, a criança já tem um ganho na qualidade de vida a partir do momento em que recebe o implante. "Desde o momento em que ela ouve pela primeira vez, já é possível sentir uma mudança positiva na parte emocional, familiar e educacional", diz.

Segundo a psicóloga Midori Otake Yamada, da equipe de implante coclear do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da USP (Universidade de São Paulo) de Bauru, o envolvimento da família é fundamental para estimular o desenvolvimento da linguagem e a interação social das crianças e dos adolescentes. "Comunicação é interação. Se a mãe não aceita a surdez da criança, não brinca ou não conversa com ela, esse processo falha", afirma.

Yamada diz também que a qualidade de vida dessas crianças está ligada ao trabalho de uma equipe especializada, com otologista, fonoaudiólogo, assistente social e psicólogo. Para os adolescentes, especialmente as meninas, a adaptação ao aparelho é mais difícil. "Alguns têm vergonha da unidade externa."

A fonoaudióloga Silvia Badur Curi, que acompanha pacientes implantados no Hospital das Clínicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), lembra ainda que a qualidade de vida depende da idade em que é feita a cirurgia.

Quanto mais tarde o implante for feito, mais trabalho envolvendo a terapia será necessário para o desenvolvimento da linguagem. "É uma corrida contra o tempo, mas, mesmo com "atraso", a pessoa pode adquirir uma boa evolução", diz.

"Ela canta, toca violão, faz de tudo"

Fazia um mês que a professora Délia Maria César, 59, havia sido aprovada num concurso público para dar aulas para surdos quando ela descobriu que a filha de dois anos não escutava. "Todo mundo dizia que era coincidência de Deus, mas, na época, eu fiquei revoltada e entrei em depressão", conta.

Hoje, dez anos depois da descoberta e sete após a cirurgia de implante coclear da filha, Délia é categórica ao afirmar que Beatriz César, 12, tem a mesma qualidade de vida de outras crianças. "Ela toca violão, joga futebol, canta no karaoke, faz tudo o que as outras crianças fazem."

Délia diz que Beatriz nunca teve problemas na escola. "Ela não sofre preconceito, tem autoconfiança. Quando eu quero explicar muito alguma coisa para ela, eu é que levo bronca", conta, rindo.


Fonte: Folha online